sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

"EU E EU"

Neste mês de fevereiro estou partindo para buscar mais uma nova etapa de minha caminhada espiritual, estou retornando as raízes de meus antepassados, sim, de meus verdadeiros ancestrais, cujo sangue clama por um retorno a vida depois da morte, e neste momento coloco-me como um elo entre os vivos e os mortos poderosos de meu próprio sangue, sangue marcado, proscrito e herético para os padrões ortodoxos da fé.

O sangue nos ossos dos feiticeiros desta terra de pindorama clama para reviver através e por meio de seus descendentes vivos e neste intercâmbio entre mundos, eu morrerei em vida, e saborearei o gosto de todas as minhas mortes, pois cada parte de mim é uma porção dos que viveram antes de mim, dentro de minha linhagem sanguínea.

Neste momento sou apenas uma árvore, fruto da semente de outra árvore, que trás todas as suas antecessoras dentro de cada semente nova. Como dizemos:

 ...Tudo deixou de ser o que era, sem deixar de ter sido o que foi...Basta olhar dentro de ti mesmo e lá estará teu primeiro “Eu” no momento absoluto de teu primeiro nascimento, olhando a tua própria existência primal... Lá estará teu “EU” ressurgente, barro-animal-bestial, cuja alma ainda estava embrionária e veio a ser tua metade “EU-ANGELICO” apenas quando a luz caída torna-se verbo-carne... E “EU” torna-se circulo circunscrito, individualidade, alma vivente, homo sapiens sapiens.

E nisto pego-me a pensar nos mortos reais que adornam com seus ossos, bastões de sabedoria, as sepulturas deste rincão chamado Brasil, onde nossa raça valente e poderosa de feiticeiros, catimbozeiros, bruxas e mandingueiras é desmerecida.

Mas o sangue de meus parentes mortos me chama e de lá de dentro das entranhas da terra ouço a voz de meus parentes falecidos e sinto o pulsar de seus corações ainda vivos na morte e mortos na vida, de lá eles esperam voltar em mim e comigo, para a terra natal de todos santos, encantos e axés.

E sem querer desmerecer,  pego-me distraído meditando nos que chamam seus antepassados com a mente em terras, culturas e sabedorias estrangeiras, como se nossa terra e sua magia, ciência e sabedoria não tivesse nenhum valor.

Meu raciocínio ilógico e irracional (ao ver da maioria dos meus detratores) não aceita hoje que ainda há mentes colonizadas que dão valor apenas ao que é de longe, mas na hora do apuro e do desassossego, por debaixo dos panos, correm para buscar as velhas e eficazes mandingas da boa terra de Santa Cruz. Porém, na expressão visível do que pregam como espiritualidade desprezam seus parentes e sua linhagem e chamam por ancestrais mítico, irreais e que nada sabem ou podem fazer, pelos que, estão a chamá-los uma vez por ano apenas e que nem nessa data se colocam como o meio ou canal para as vozes das necrópoles que estão debaixo dos próprios pés.

Mas cedo ou mais tarde, como tenho visto na totalidade dos buscadores de outrora (e me coloco entre eles), acabam se enchendo e se afastando do caminho que dantes defendia com afinco e por se sentirem vazios e não verem resultados de seus trabalhos de feitiçaria.

Tudo a seu preço e cada um há a seu tempo de buscar sua própria e real origem, isso para alguns pode não ser verdade, mas contra fatos não há argumentos. Até mesmo dantes críticos ferozes a mim, hoje buscam outras formas de espiritualidade,  de modo quase oculto, para complementar o que sentem falta no caminho expresso e visível que professam já apenas da boca pra fora.

Não estou a criticar o caminho espiritual de ninguém, apenas revelando augúrios, que por certo hão de cumprir-se, hoje podem encher minha caixa de mensagem ou colocarem depoimentos deprimentes, usando fakes, mas  “Destino” é implacável com todos e no final, Maktub.

Desejo serenidade a todos e paz aos que são de guerra.