quarta-feira, 13 de julho de 2016

ALEA JACTA EST - PARTE VII

O DIÁRIO DE AZAZEL – PÁGINAS 1874-1878


Querido Diário....
Hoje recebi a visita de meu Mestre, ele parecia meio inquieto, sendo além de amigo pessoal, quem havia me indicado ao ingresso à Loja, não passaria despercebido a mim que algo o incomodava.
Ele sabia disso e foi direto ao ponto, - em certo meio andou circulava uma história bizarra a seu respeito - logo suspeitei tratar-se dos fatos ocorridos nas terras do Marquês das Torres, lendo minhas feições ele disse - não se preocupe os fatos ocorridos com os desgarrados estão sob o sigilo da Ordem e como decretado pelos Anciões, nenhum filho do barro vermelho tomou consciência da realidade revelada na ocultação da similitude, eles não estão preparados para tais fatos – fez uma pausa, tomou um gole do conhaque barato que eu tinha lhe oferecido, andou calmamente pela pequena sala de decoração simples, olhou pacientemente minhas fotos antigas tiradas à época em que estava na ativa militar, suspirou e disse – Não somos mais meninos –  calou-se.
Bebeu outro gole da bebida, ato que repeti com meu próprio copo e então ele disse – já não está na hora de por fim a este exílio? Até quando você vai ficar assistindo de camarote e alheio ao que ocorre? – Ele me pegou de surpresa, de fato nenhum dos Guardiões havia indicado que sua visita ocorria e que o assunto a se tratar seria eu e meu auto-exílio. Ouvir rumores – prosseguiu ele - de que certa pessoa havia se vangloriado, entre os que ela supostamente inicia, com seu desaparecimento, alardeando que havia derrotado você e lhe banido do meio da Bruxaria, que suas novas práticas religiosas, era a prova cabal que você não era um Bruxo,

– Não tive como evitar uma explosão de gargalhada ao ver o rosto do Mestre sério, rígido, quase duro, sem mover um músculo da face, como se tivera sido tratado com botox ao falar sobre o caso. Ri incontrolavelmente por alguns minutos, chegando às lágrimas, enquanto ele com seu rosto quase como um pedaço de pedra de mármore, não compreendia meu riso descontrolado, com muito esforço, me controlei, e quase soluçando, tentei explicar a ele o motivo das risadas – veja bem meu irmão, imaginei a cena, a pessoa toda montada com imitações baratas das roupas da antiga nobreza de Veneza, como se fora um personagem de contos infantis dos filmes da Disney, empunhado um cajado enrolado de fitas, lantejoulas e areia prateada, diante de uma platéia atônita de neófitos proclamando sua vitória sob mim e decretando meu banimento da Bruxaria.
Por um instante, achei que ele havia se irritado com minha visão do conto de fadas, mais logo seu rosto de estatua se desfez em um estrondoso riso.
Ele já havia presenciado de alguns ritos liderados pela pessoa, e estes eram e ainda são: cansativos, enfadonhos e cheios de vaidades, com um “q” de roupas e maquiagens extravagante, regado com um ritual encenado sem sentido algum para consciência de quem se é. Na verdade, como a maioria das celebrações, erradamente chamadas de sabá, aquela também era desprovida de antinomia luciferiana.
Após boas risadas e recordações não muito éticas sobre tal pessoa, eu precisava da a minha versão, afinal se meu irmão se deu ao trabalho de vir até mim, sei que não o fez só por saudades, havia de certa forma implícito uma determinação da Ordem ou dos Anciões para ouvir minha parte da história ou testar meu aprendido.
Pacientemente, lembrei a ele que - quando os Anciões concordaram em que eu permanecesse da cidade industrial, havia a condição de que eu mantivesse minhas Artes Proibidas em segredo e só às praticasse sob a Máscara, naquele momento eu fiquei revoltado, porém, como acertado entre eles e o Guardião eu cumpri.
Dei uma pausa e então de súbito prossegui - Hoje, compreendo que na verdade, os sábios estavam não me proibindo, mas, me impulsionando a subir degraus de compreensão nos Caminhos de Caim e na prática das Artes do Diabo. Eu precisava ser esvaziado da minhas pseudo-verdades, eu precisava da dúvida para chegar à certeza, e só assim, eu poderia sorver o vinho tinto de sangue na Taça-Crânio de Abel.
Bebi mais um gole do conhaque e dei prosseguimento - Ao beber de meu próprio sangue e comer da minha própria carne, pude começar a ter vislumbres das faíscas que o Martelo de Nosso Pai produz ao bater o ferro em brasa sobre a bigorna. Compreendo que a Bruxaria, é de fato a herança de Lumiel e dos Caídos, e se revela na ocultação da máscara.
Parei e lembrei de meu Iniciador e plagiei suas palavras - Hoje de fato a afirmação de que a Bruxaria é Toponímica, ou seja, do lugar em que se vive, com fortes ligações com a história, arqueologia, cultura e a geografia da terra onde se está habitando, faz sentido. Minha visão mudou totalmente.
Apanhei meu cigarro mentolado, acendi e passei a fumar, apesar do Mestre está usando adesivos de nicotina no braço, não resistiu e incontinente acendeu um dos meus que apanhou na carteira e fumou vagarosamente, eu lhe ofereci uma cerveja gelada e ele aceitou-a e bebeu na lata mesmo e eu imitei sua ação.
Prosseguir minha versão – Nesta jornada, longe das luzes e holofotes das redes sociais, encontrei o exílio, solidão, abandono, esquecimento, meu ego quase sucumbe ao desejo de ser notado. Decepções, angústia, solidão, muitas noites chorei sobre minha própria sorte. Insônia, ansiedade, vazio, um caminho solitário e frio, que somente quem já adentrou a estrada tortuosa que conduz ao inferno sabe o que é. Eu estive no abismo entre a sanidade a loucura, e como diz a musica do Legião Urbana, fui “vilipendiado, incompreendido e descartável” pelos que amei e estendi à mão. Eu queria morrer, dar cabo a minha própria vida, não havia solução, e no limiar entre querer e tentar morrer, a Morte, sob o nome de Iku, se apresentou como o primeiro Guardião de Portal, eu me rendi a Ikú, e aceitei seus desígnios e seus mistérios na carne, ele tem sido um dos muitos Guias que me ensina sobre além do véu. Com Ikú, aprendi a reverenciar os mortos Poderosos debaixo de meus Pés e aceitei meu próprio sangue miscigenado e tudo que ele contém – inclusive um Corpus Pratico de Feitiçaria de minha própria terra e raça - como minha herança e como os Espíritos das Sombras que ensinaram a Caim, os mortos de meu sangue vieram em meu exílio – sob a mascara da ocultação dos ethus e aethus dos todos os credos que me trouxeram aqui – Deuses, Santos, Orixás, Mestres, Caboclos, Exús, Pombagiras, Eguns e Demônios, se mostraram sob e sobre a mascara da ocultação que os revela e tive a certeza de quem EU sou quando falei com aqueles que se foram antes de mim e lembram quem são – Isto é mistério, e nisto se resume minha prática e minha busca: Saber quem eu fui, quem eu sou e quem serei depois que Ikú vier me conduzir para além do véu.
Parei por uns instantes, e arrematei - Mestre, para a decepção de quem acha que me baniu ou que não pratico mais, eu continuo sim minha prático, sou e serei um buscador da Arte sem Nome, apenas abdiquei das luzes do palco e do estrelismos. Para quem falou quem não prático mais as Artes do Diabo, só posso dizer o seguinte: Sou Bruxo da TI, sou Luciferiano e Cainnita – e para poder falar de mim ou que me baniu da Bruxaria tem de fazer subir - pelas Artes do Diabo - o Espírito de suas avós celtas monomasquetomizadas que os iniciaram na Bruxaria para poder falar diretamente a assembléia Coventicular, até que isso aconteça, apenas são tolos iludindo tolos e cegos guiando cegos. Para desgosto deles - contínuo sim minha prática de Bruxaria....sem alarde... sem títulos...sem precisar reconhecimento de FDP algum... Não parei de praticar minha arte... E nem de treinar os meus... Apenas sair dos holofotes... para estar longe de muitas das besteiras e mimimis que vejo por ai....Eu nunca perdi a rota...Apenas encontrei o caminho do silêncio...
O Mestre estava pensativo, parou, acendeu outro cigarro e disse - ALEA JACTA EST.

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Este texto não fala da verdade e nem é dirigido a ninguém, mas apenas fala de mentiras símeis aos fatos... “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade.....

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domingo, 13 de março de 2016

ALEA JACTA EST - PARTE VI


O DIÁRIO DE AZAZEL – PÁGINAS 1766-1770


“O que escrevo, pode ser visto como fragmentos de verdade, ou, como a mais pura e deslavada mentira, pouco importa a mim, a não ser o fato que lhe suscite a duvida” (Jayhr Gael Lvnae).


Sentei-me a mesa para escrever no meu diário, como faço diariamente - Bom dia meu Diário, sentiu minha falta? Hoje vou lhe contar mais uma história

Em meu ouvido uma voz metálica respondeu: Pare de escrever!!! Hoje a história é minhaParei para ouvir - Irei falar sobre fragmentos de verdade, ou será fragmento da mais desvelada mentira? Pouca importa desde que lhe suscite a duvida para mim já será ótimo. Sua voz na minha mente calou-se de pronto.

Envergonhado, e surpreso, levantei da cadeira, acendi meu cigarro mentolado, e comecei a fumar, e pude de fato refletir... Algum tempo depois, como se ouvisse meus pensamentos – afinal meu diário não perde a mania de curiar meus pensamentos.

Ele perguntou: Você sabe por que praticar a magia e a feitiçaria com e sob a influência dos Espíritos do Caminho que habitam nas sombras das Cavernas é um “Focus” Iniciático?

 Como assim?  Esclareça-me - o Magistellus, respirou fundo – era a primeira vez que sua manifestação saia da esfera da intuição psíquica e tornava-se praticamente física, quase que ectoplasmatica. Sim já o havia encontrado várias vezes nos campos da hipnagogia, e sua aparecia não me era desconhecida, porém, jamais havia ido além disso, ou seja, da invasão mental dele no lado de cá do véu.

Ele continuou - o dia hoje parece que te encontrou mais pensativo e disposto, esteve ontem em mais um  “Congressus Cum Daemone”? 

Sim respondi.

E como foi?argüiu ele.



De pronto respondi – Novamente  o Sabá foi na Encruzada dentro da Calunga do Setor “C” da Cidade Industrial, vários Espíritos de todos os graus e níveis estavam lá, danças, musicas, bebidas, cigarros, uma verdadeira Kimbanda e a  anfitriã do Sabá, como sempre foi Rosa Caveira, e ela estava particularmente mais linda, pálida e diabólica...

Ele ali fluídico, quase que tocável, teve uma espécie de Déjà vuComo nos velhos tempos - e murmurou - Lilith......

Porque chamas pela Mãe Bruxa Guardião do Diário? – perguntei na lata e em resposta ele disse: isso foi muito antes de minha degradação para as terras de Pindorama no ventre de fétidos navios Ibéricos – deixemos isto de lado - logo recuperou a compostura, disfarçando bem seu saudosismo e continuou – O que você sabe sobre o significado da “Jornada do Andarilho Solitário”?

Sentei-me ao chão. Confesso que ainda estava sobre o impacto da aparição dele, afinal, ele estava humilde, sem a arrogância e petulância características de suas manifestações na minha mente e isso é o que me causava mais temor. Acostumado com seu jeito brusco como eu estava, aquela forma e paciência com que falava, e, sua voz metálica pausada, quase que explicativa me deixava, de certo modo, com medo. Ali via meu Professor das Artes Proibidas, em sua forma natural e não o meu amigo Guardião do Diário. Eu o havia evocado através de cerimônias secretas de um dos muitos livros raros de “Magistas de Tradições da Arte Sem Nome da Europa.

Pouca coisa - eu disse embaraçado - Ele então falou: Desde a primeira queda até Cain, foram sete, mas é a jornada do Andarilho o que mais nos importa hoje, ela nos mostra não a Jornada do Homem de Carne, mais a Jornada do homem na Carne, ou seja, da Alma do Homem em busca da sua origem

Interrompendo sua fala perguntei - A Alma começa sua Jornada, no além tumulo, mas deve se preparar no limite de cá?

Com sua atual e não peculiar paciência, calmamente respondeu -  morte filho, é Destino, Iku é apenas o guia.  Como se vive aqui é que determina quem se é para onde se vai no lado de lá.

Entendo - disse eu: A condição ou condicionamento, na maioria das vezes, oriunda de nossas crenças, após se fechar o ataúde funeral são as moedas ao barqueiro, para se saber quem se é ou para inconsciência do mundo físico de quem se foi ?

Como resposta ouvir: a escolha é simples ou você acredita em Morte ou Acredita em Vida após morte.

Então é uma questão de crença? Perguntei.

Ele respondeu: Não, meu Filho, é uma questão de consciência, ou seja, não é acreditar somente, é viver. Ele me olhou ternamente e me bombardeou de perguntas: Há quem diga que a vida verdadeira é a vida no lado de lá...,Mas já reparou que sempre enfeitam o lado de lá, com coisas do lado de cá?.... Já se deu o trabalho de perceber que nos mitos os Deuses, Semi-Deuses e Heróis, praticam atos humanos ou já viveram no plano físico aqui ou num lugar atemporal dentro de um plano físico e que neles existem a semelhança do que há aqui?....Você acha que nós imitamos estes seres sagrados e míticos ao reatualizar os seus mitos ou que apenas refletimos nossa crença inconsciente do que nos espera do lado de lá?

Nem deu tempo responder, pois ele prosseguiu: Filho pense, se a vida real e verdadeira, é  do lado de lá, porque diabos “UM” criou o lado de cá? .... Não seria mais lógico, a criação desenvolver-se pura e simplesmente do lado de lá. 

Realmente este era um novo ângulo da manifestação e incorporação dos Espíritos e Guias que ainda não havia percebido. 

Ele falou então:  Cain, é o exemplo da Alma na busca de si mesma, de sua origem e de seu destino e é isto  ensinado, nos mistérios da Feitiçaria..... evocar os Espíritos e um sinal, um “Arcano”, que vai além das práticas e objetivos da evocação ou invocação, eles vêem, respondem, incorporam e lembram-se exatamente quem são, quem fora e o que fizeram, quem eram os seus, não perderam suas índoles ou desejos,  seus trajetos e nomes. Eles sabem quem são, eles sabem sua origem e sabem escolher, de forma individual e amoral o que e como fazer.  Você percebeu o que digo nas entrelinhas?




Então eu disse: Evocar Cain, nos ritos da Bruxaria Européia é um simbolismo, evocar ou invocar um Espírito da Terra - não importando a finalidade – através das diversas práticas, é um muito mais que isso em si mesmo, é a desvelação de que há um mistério, uma revelação da permanência da consciência após a vida física, é o confirmação da certeza de se saber quem se é - a decretação da não existência do Céu ou do inferno - A morte de todos os Deuses e Demônios. E a conseqüência disso é a liberdade.

É o que estou dizendo – disse ele e completou - É o dardo lançado pela mão de Saklas-Lumiel que atinge o alvo. Ele desejou que fossemos semelhantes ao Altíssimo em menos tempo do que o engendrado na evolução por “UM”, por isso, ele preside as invocações e evocações dos portais infernais. 

Acendi outro cigarro, ele olhou para a fumaça que exalava de minha boca e senti que ele desejou muito reviver outra vez aquele ato mortal em seus pulmões. Respirou forte, como se exalasse a fumaça e disse – Quer saber outro segredo meu Filho? – Claro, respondi de sobressalto Estes Espíritos, de fato é que são teus Ancestrais. Não importa qual vibração (ou linha, ou crença) você esteja, não importa que nomes eles assumam ou que tipos de sacrifícios ou ritos compactuem, ou como sejam chamados. São sempre seus parentes - sangue por sangue, alma por alma - que se aproxima e trabalham por e com você, em simbiose, é simples assim. Pois quando se atravessa para o lado de lá mantendo a consciência de quem se é, a Alma escolhe praticar livremente - amoralmente - o que desejar: ou seja, ajudar seus parentes e assim passa existir nos dois mundos individualmente, consciente, livre, escolhendo entre o bem e o mal, Como “UM”. Você agora entende o que é o Homem de Preto do Sabá?



Então Feitiçaria, Bruxaria não é uma religião? Perguntei.


O Magistellus então respondeu: Nunca foi, Bruxaria é Ofício, é a pratica que os Caídos trouxeram como dádiva aos humanos, embutindo nela o mistério da sobrevivência da consciência de quem se é - após a travessia para o lado de lá de véu - Todos os credos, ethos e aethus são teus por direitos sagrado, pois neles, há sempre este mistério, mas, deves antes, sentir o sangue de tua Terra, as almas dos mortes sob teus pés, este é o segredo, deves ouvir tua própria raça, pois quando os Vigilantes Caíram eles não inventaram culto novo, mas aproveitaram os cultos que nasciam e perverteram com esta heresia os já estatizados... Por isso se diz, se és Bruxa deves saber chamar um Espírito e ele se manifestar, ou deves saber trazer um a Alma de um morto ao Círculo e consultar..... Se não sabes fazer isso, não te chames Praticante do Oficio, ou da Arte, te chame de reconstrucionista.... Dance, cante, celebre, mas não chame isso de sabá... E se não sabes compreender o Arcano e o Mistério contido na comunicação com os Espíritos do Caminho cruzado, e se não sabes ao menos resolver os problemas cotidianos e dos que estão te seguindo como Líder – emprego, amor e amarrações, abrir caminhos, causar danos, expulsar e ou dominar um Espírito perturbador, etc...- se não sabes os segredos dos cultos feiticeiros de tua própria Terra – banhos, oferendas, deidades e guias, ebós e mandingas – para poder desfazer algo contra alguém teu....Para que te chamas de Bruxo? Engoli e seco... virei-me, ele sumiu e ouvir na mente: .........ALEA JACTA EST......


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Este texto não fala da verdade, mas apenas de mentiras símeis aos fatos... “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade.....
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 Dedicado a Raven Draak Lupercus Lvnae 


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

ALEA JACTA EST - PARTE V

O DIÁRIO DE AZAZEL – PÁGINAS 1745 – 1750


“...O fogo sagrado queima no círculo de pedra, no centro do tudo o que eu sou... trovões poderosos retumbavam pelo ar e relâmpagos anunciam a tempestade... Desperto o dragão do abismo profundo... Eu abandono o reino do caos e me liberto ao longo dos rios infernais... Eu sigo o caminho da Serpente Vermelha num vôo ancestral ...” (Adatção livre do: Act IV: Congressus cum daemone in Cimmeries - Opera IX).


As coisas durante um tempo caminharam bem para mim no Distrito Industrial, o único problema foi que Pedro arrumou uma namorada que por sua vez tinha uma tia que era eximia feiticeira - especializada em amores e separações - e o filho desta era um bom aprendiz das artes da mamãe, ambos mascaravam as Artes Diabólicas sob o manto nas Crenças dos Ancestrais Africanas.
Confesso, meu pequeno Magistellus, que meu envolvimento com Pedro, haviam ultrapassado o limite de mera amizade e você sabe melhor que ninguém, que nunca me enquadrei no moralmente aceitável quando o assunto é sexo e amor - sempre fui amoral, escolho quem vai para cama comigo por afinidade e não por gênero.
Pedro e eu, nos ligamos demasiadamente, quase que diariamente estávamos juntos, eu cuidava dele e ele de mim, isso irritou não só a namorada dele, mas o meu servidor humano, que por ciúmes, não fez questão nenhuma de resistir aos encantos de dois cooptadores de Almas, uma dupla que prefiro chamar de “Almas Sebosas”. Por outro lado, eu também, não fiz questão alguma de levar queixas aos Anciões, pois por certo seria proibido de usar as Artes do Diabo para recuperar o domínio de meu servidor humano. E, pelo que conheço bem aquele ingrato servidor, quem o seduziu iria se arrepender -  Eu a ele sempre ensinei a se defender e a usar de “charme” contra as “Almas Sebosas.
Nem consultei os oráculos para saber, pois, tempos depois, através da rede mundial de fofoca, fiquei sabendo, que meus ensinos deram frutos, meu ex-servidor humano, soube de fato extrair monetariamente uma boa quantia das “Almas Sebosas” além de quase acabar - com sua sedução - com o laço que os unia há tempos – o feitiço virou contra os feiticeiros – E como eu não aceito devolução, faço minhas as palavras do bom e velho Capitã Nascimento (Tropa de Elite) : “cada cachorro que lamba sua caçeta”. Soube também, através de um velho e interesseiro conhecido (a quem subornei na maior cara de pau para colher informações sobre mim junto aos Anciões) que as “Almas Sebosas” foram até aos Anciões exigindo que fosse feita a reparação dos danos e querendo vingança, mas como tinham quebrado a regra 4.180 § IV do Distrito (É proibido, caçar, seduzir ou cooptar Servidores com Donos), foram proibidos de tocar no meu ex-servidor e tiveram que deixar ele em paz....Eu por outro lado, também, preferir quebrar o laço entre eu e ele, apesar da dor que é rasgar a carne e liberar sua cria, era necessário, não poderia continuar ligado aquele traidorzinho miserável...
Aqui meu Diário a história começa a se complicar... preste atenção... Alias, acho que esta é primeira vez que você não reclama e não palpita sobre o que escrevo em teu corpo...O que está havendo com você?
Como assim pra eu deixar de xaxo  e continuar essa história...?
Onde está o respeito Diário?
Tá bom... vou continuar...
Pare de rir, não fiz cócegas, nem estou bolinando você... Esse líquido é apenas a ponta molhada de saliva dos meus dedos para virar a página....
Continuando....
Como você sabe quando rompi com aquele ingrato humano, de imediato a minha ligação com Pedro alcançou um nível extremo, a principio nos campos da hipnagogia, entre as paisagens oníricas eu o conduzia até os campos de Josafá e aos Prados do Bode, fomos bem recebidos na  Encruza e Calunga, Mortos e Vivos, seres destes e de outros mundos, imaginados e inimaginados pela mente humana, todos saídos do útero-falo Primal se uniam em heresia e amoralidade para Glória de Destino... - congressum cum daemones - espíritos e carne unidos num Banquete a Gloria de Um..
O que é verdade acima é verdade abaixo, e o que é verdade aquém é verdade além do véu –  Nossa proximidade chegava ao limite de nos tornamos necessários um ao outro, era como se nos alimentássemos de nós, chegava quase ao patamar de obsessão.
Só pequenino Diário... Quem sabe direcionar sua luxuria com obsessão obtém seus resultado...
Tá bom... 
Pare de reclamar... sei que pequenino é diminutivo demais, eu sei... só quis ser carinhoso...
posso continuar?
Por vezes Pedro saia da casa da namorada e dirigia por quase uma hora para vim dormir comigo, bastava um simples toque e estávamos extasiados e entregues e, apesar dele nunca ter se envolvido daquela maneira, aquilo que sentia por mim era maior que seus medos e preconceitos. Ele estava disposto a acabar o namoro e eu me opus a isso (este foi meu erro fatal) - uma mulher ferida e magoada é um animal indomável e vingativo.
Ela sacou logo que aquela amizade estava além do aceito como normal e então consultou os oráculos através de sua tia... E Ifá não escolhe lados, apenas conta os fatos, o que viria em seguida é fácil de adivinhar, os búzios não metem jamais... Revelou a ela a verdade e como sempre, para cada destino um Ebó…
Certa noite de setembro, eu estava entre o limite do sonhar-dormindo-acordado e meu Guardião o Senhor Tranca Rua das Almas – me avisou -  estava sendo lançando  um poderoso feitiço, um Ebó de separação, e ele não poderia naquele momento impedir apenas proteger meu corpo, de imediato, ele me levou por uma encruzilha em T e na intercessão fica a Calunga Pequena, vários dos espíritos conhecidos meus estavam lá, cumprimentei a todos – Larouyê!!!!.


 Alguns se juntaram ao meu Guardião em cortejo - seu Caveira, Seu Capa Preta, Seu Veludo, Dama da Noite, Rosa Negra, Seu Tiriri, Seu Caveirinha -   sentir naquele momento as presenças de forças vindas dos portais de além em ebulição, Leonor a namorada do Pedro estava lá, sua Tia e seu primo eram os Maestros dos atos, via o medo e o terror nos olhos de Leonor, mas ao mesmo tempo, seu desejo de vingança e de ter Pedro apenas para ela era maior.
Vários ingredientes dispostos - panela de barro, bofe de boi, vários tipos de pimentas, alfinetes, azogue, dendê, frango preto, cachaça, espumante, charutos, cigarrilhas entre outras cosias não moralmente aceitáveis - um arsenal digno de uma boa feiticeira, iluminados a luz bruxuleante de velas pretas, vermelhas e brancas, estavam diante da sétima cova da calunga e a feiticeira alafiava para ver quem aceitaria o trabalho – trabalho aceito...
Na minha fúria insana, eu ia em direção ao trio para trucidá-los -  afinal, eles podiam ser feiticeiros, eles sabiam evocar espíritos e manipular as forças ao seu desejo assim como, mas eu tinha algo a mais, eu sabia andar entre os mundos e a provocar sensação físicas mesmos estando nos espaços hipnagógicos.... 
Quando me atirei uma mão frio, com dedos finos e cheios de anéis dourados com pedras vermelhas e unhas delicadamente feitas e pintadas de rosas se colocou na minha frente, aquele toque frio me paralisou... Pare – disse-me uma voz feminina e firme.


Ela era linda, olhos azuis, flutuava a poucos centímetros do solo, vestia um vestido longo de alças, com um leve decote, que começa em negro e ia mudando de cor à medida que desenhava seu corpo - do vermelho  ao cor de brasa viva – em direção aos pés.... no pescoço um colocar dourado com uma grande pedra vermelha reluzente - não sabia se era rubi ou diamante - seus cabelos loiros quase brancos presos em coque no alto da cabeça, fixados com uma rosa vermelha... Seus lábios finos pareciam estar untados com um leve batom roseado... A palidez da pele lhe dava uma beleza ímpar - a morte com certeza a amava... para deixa-la linda e formosa como era....Trazia rosas em uma das mãos - Não devemos nos aproximar, tudo a seu tempo... por causa deste feitiço Pedro se afastara de você, seja forte, suporte... tudo tem um ciclo... Até mesmo aqui na calunga,  tudo é cíclico....Logo este ciclo terminará e eu vou desfazer esse trabalho... Confie em mim...
Ela percebendo minha surpresa, me disse, não se iluda com a minha beleza, esta aparência é apenas um presente de meu Pai Omulu...Também tenho meu lado sombrio...Derrepente, todo o seu corpo mudou - apenas seus cabelos, vestes e adornos permaneceram - e ela se tornou-se uma caveira viva... E lá da Portão da calunga pude ouvir então:
“ A sua catacumba tem mistério mais ela é Pombagira do cemitério, mais ela e loura dos olhos azuis Rosa Caveira filha de seu Omulú...”

.........ALEA JACTA EST......

O texto é composto de mentiras símeis aos fatos... “e dizer mentiras símeis aos fatos é furtá-los à luz, encobri-los. As mentiras são símeis aos fatos enquanto só os tornam manifestos como manifestação do que os encobre " ele, revela assim, similitude que se oculta na verdade e na mentira no estreito caminho entre o cinismo e a ingenuidade.....
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Dedicado a André, meu amigo, meu irmão, meu conselheiro, confidente... meu Afilhado e meu Babalawô... Você meu Babá com sua simplicidade e grande sabedoria, me ensinou a ouvir o que os Espíritos têm a dizer...... Bênçãos e Maldições na XT.... Asè ò...Babá